Júlio Furtado é orientador educacional e escritorDivulgação

A tão comentada minissérie 'Adolescência', disponível na Netflix, mergulha em temas complexos e inquietantes, como a negligência familiar, a dificuldade de comunicação entre pais e filhos e a vulnerabilidade dos jovens. A trama acompanha Jamie, um garoto de 13 anos acusado de um crime chocante, e convida o público a questionar suas próprias percepções e preconceitos.
A série desconstrói a imagem inicial de Jamie como um 'bom moço' frágil e inocente, revelando a complexidade dos personagens e a ausência de respostas simples. Jamie se tornou um símbolo da adolescência negligenciada, das dores silenciadas e da falta de espaço seguro para que os jovens sejam ouvidos.
A reflexão dos pais de Jamie é um dos momentos mais emocionantes da série. O pai ite que sofreu violência doméstica na infância e quis criar o filho de uma maneira diferente. A mãe lembra que sempre tentaram oferecer o melhor: um quarto bem montado, um videogame, conforto. Mas, ao mesmo tempo, confessa que notava que o filho ava cada vez mais tempo isolado no quarto. E ela não viu problema nisso.
Um dos aspectos mais impactantes da série é a representação do ambiente escolar. A série expõe a falha da escola em proteger seus alunos, mostrando o bullying como uma presença constante e a falta de preparo dos professores para lidar com questões como o a exposição sexual, sofrida por Katie Leonard, vítima do crime.
A falta de intervenção eficaz transforma a escola em um espaço onde o sofrimento é normalizado e os problemas dos alunos são ignorados até que se tornem graves demais para serem contornados. A série escancara o impacto das relações educativas mal estabelecidas, focando as consequências trágicas que podem ocasionar e, no caso da escola, acende um alerta enorme para que ponha luz sobre esse tema e seja catalizadora de reflexões que alertem e apoiem os pais no desempenho de seu papel.
A série leva a nós, educadores, a questionar se estamos atentos aos pequenos sinais, como os silêncios prolongados, os afastamentos sutis e as mudanças imperceptíveis no comportamento dos jovens. A grande lição de "Adolescência" é que nós precisamos dar mais espaço para as emoções e para os dramas da adolescência. Precisamos nos disponibilizar emocionalmente para um diálogo verdadeiro em que permitamos que o outro habite em nós e isso provoque a sensibilização necessária para que retiremos, em tempo, nossos adolescentes desse fosso existencial.
Júlio Furtado é orientador educacional e escritor