Coletiva de imprensa sobre nova ação da Operação TorniqueteReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Três policiais militares estão entre os alvos da ação da Polícia Civil, realizada na manhã desta sexta-feira (23), contra uma quadrilha especializada em "pagamento de resgate" de veículos produtos de roubo e furto. O procedimento fez parte da Operação Torniquete. Não houve registro de prisão.

A participação dos agentes no esquema foi confirmada pelo delegado Mauro Cesar da Silva Júnior, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), que investiga o esquema.

"Nós tínhamos três agentes públicos que foram alvos de busca e apreensão. Não houve nenhuma prisão, não tinha nada de ilícito no que se refere a outros fatos na residência deles. Objetos foram apreendidos, como aparelhos de telefone celular, computadores, assim como na residência de pessoas que não eram agentes públicos. A participação deles até o momento era a mesma que os outros alvos da investigação de hoje. Eles estão envolvidos, prestam serviço para essas empresas de pronta resposta e a continuidade das investigações vai conseguir comprovar até que ponto era esse envolvimento", explicou.

O secretário de Estado de Polícia Civil, Felipe Curi, também falou sobre a participação dos policiais militares no esquema criminoso e fez um alerta.

"Essa é a primeira fase da ação, há investigações em andamento. Então fica um alerta aos que insistem em se beneficiar desse sistema. Os agentes públicos que também caminham à margem da lei, se beneficiando de toda essa cadeia criminosa, para que não insistam em continuar nisso, que a polícia está em cima e a resposta será dada a altura. A ação de hoje é uma fração de todo esse esquema criminoso. É um duro golpe nessa organização, mas tenham a certeza de que outras fases virão. Então, fica o alerta de quem puder, saia desse escopo criminoso e siga na direção da lei", disse.

Quatro empresas de "pronta resposta" foram investigadas nesta primeira fase da ação. De acordo com o apurado, essas recuperadoras contratadas por associações e cooperativas de proteção veicular, negociavam diretamente com roubadores, traficantes e receptadores o pagamento de valores para a devolução dos veículos.

Ainda segundo o delegado titular da DRFA, o próximo o das investigações é descobrir se há algum envolvimento direto das associações cooperativas com os criminosos.

"Além da gente cumprir os mandados de prisão, prender criminosos, apreender armas e veículos, a gente tinha que asfixiar a estrutura financeira dessas facções narco terroristas, que no fundo são elas que fomentam esses roubos de veículos. Então essa investigação priorizou também essa asfixia financeira", contou Mauro Cesar.

Como funcionava o esquema

O esquema visava evitar que essas associações precisassem indenizar seus clientes com base na tabela Fipe. Quando um veículo protegido por uma associação ou cooperativa era roubado, os funcionários dessas empresas de “pronta resposta” entravam em contato diretamente com criminosos, traficantes ou roubadores para negociar a devolução.

Esse contato era feito dentro das próprias comunidades dominadas por facções. Para os bandidos, o esquema criminoso é uma forma rápida, segura e altamente rentável de obter dinheiro. O mesmo vale para essas empresas, pois, em média, foram pagos mais de R$ 6 mil por veículo recuperado, sendo que uma parte era para o resgate e outra ficava para a empresa.

"Quando um carro é recuperado, o pagamento é até 10% da tabela FIPE. Quando uma moto é recuperada, o pagamento gira em torno de 20% a 30% da tabela FIPE, e varia como foi o contrato da associação cooperativa com essa empresa recuperadora de veículos", explicou o delegado titular da DRFA.

O tempo decorrido entre a data do roubo e a da recuperação chamou atenção dos agentes pois, em algumas empresas, em média, era de apenas quatro dias.

As investigações demonstraram também que quatro empresas receberam, de apenas duas associações, mais de R$ 11 milhões em menos de um ano. Nesse mesmo tempo, só por essas empresas, mais de 1,6 mil veículos foram recuperados.