Familiares, amigos e intelectuais se reúnem nesta sexta-feira (23), na sede da ABL, no Centro do RioÉrica Martin / Agência O Dia

Rio - Familiares, amigos e intelectuais se reuniram nesta sexta-feira (23), na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio, para o velório do professor, gramático e filólogo Evanildo Bechara, que morreu nesta quinta-feira (22), aos 97 anos.
Ao fim da cerimônia, que começou às 10h, o corpo foi levado ao mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul onde foi sepultado. Considerado um dos maiores nomes da gramática no Brasil, o professor ocupava a cadeira 33 da Academia, desde maio de 2001.
Apesar da idade avançada e da dificuldade de locomoção, era um dos acadêmicos mais presentes durante as atividades culturais promovidas pela ABL semanalmente.
Durante o velório, as integrantes do fã-clube "As Becharetes", Fernanda Lessa e Andréa Nonato, expressaram toda iração pelo professor.
"Nós temos pelo professor uma iração, um respeito, um carinho, porque ele é um ser humano ímpar. Além de ser um gênio da nossa língua portuguesa, ele possui uma humildade que não se vê em nenhum outro ser humano com tamanha potencialidade como a que ele tinha", disse Fernanda ao IA.
"Devo muito ao professor Evanildo Bechara, que me orientou com uma paciência absurda, com toda a delicadeza e um carinho inimaginável. Ele sempre foi muito paciente, explicou tudo direitinho, sempre com muita calma, e me ajudou", agradeceu Andréa.
Acadêmicos lamentam perda
Presidente da ABL, o jornalista Merval Pereira exaltou a importância do amigo. "Evanildo Bechara era o maior especialista em língua portuguesa, com fama que ultraa nossas fronteiras. Foi o representante brasileiro na reforma ortográfica feita com Portugal. Além de tudo, era um professor generoso e uma pessoa íntegra e cordial", afirmou.
Ricardo Cavaliere, filólogo, linguista e grande amigo de Bechara, falou sobre o legado. "Apesar de nos deixar hoje fisicamente, Bechara realmente chega à imortalidade por sua obra altamente qualificada, pelo respeito que conseguiu, não só por especialistas, como também do cidadão comum e de todos aqueles que amam a língua portuguesa e fazem dela o seu principal elemento de comunicação. Então, temos que agradecer muito a esse grande brasileiro por tudo o que fez e homenageá-lo para sempre com a leitura constante de sua obra", declarou.
Godofredo de Oliveira Neto, escritor e professor universitário e acadêmico, também expressou pesar. "É um dia muito triste. A perda de Evanildo Bechara é um grande golpe para a filologia brasileira", disse. "A tristeza a a ser menos profunda quando a gente pensa que a obra dele está aí. A obra fica para sempre, é uma obra indispensável para os estudos de língua portuguesa no Brasil." 
Ocupante da cadeira 1, a escritora Ana Maria Machado destacou a iração que sentia pelo gramático. "Fui aluna dele na faculdade, quando aprendi a irar seu saber e suas qualidades de mestre, sempre confirmadas pela vida afora. Nos últimos vinte e três anos, em nosso convívio na Academia, pude apreciar sua doce gentileza e a finura de seu senso de humor agudo e muito peculiar. Deixa uma marca magistral indelével."
O acadêmico Domício Proença Filho também se manifestou. "Perdeu o Brasil, perdeu a língua portuguesa o nosso filólogo maior. Perdi o amigo-irmão de toda a vida."
A jornalista Rosiska Darcy de Oliveira, membro da ABL, relembrou sua história com o professor. "Conheci Bechara quando tinha 12 anos, meu professor de português no Instituto de Educação. Me ensinou a escrever e a amar a literatura. Mais de meio século mais tarde estávamos sentados em cadeiras contíguas na ABL. Bechara foi um grande brasileiro, defensor da língua portuguesa, um professor formidável, um homem terno e generoso, um cavalheiro. Não sei se ainda existem vocações como a dele. Foi um privilégio ter convivido com ele."
Edgard Telles Ribeiro, escritor e diplomata, recordou com carinho o jeito do filólogo. "Ele sorria com aquele jeito modesto dele, um jeito tão doce e inesquecível, cada vez que eu creditava a seus livros ter sido aprovado em português no Vestibular do Rio Branco — de tão seguro que sempre me senti graças a seus ensinamentos", ressaltou.
* Colaboraram: Érica Martin e Raphael Perucci