Eufrásia Teixeira Leite deixou a maior parte de sua herança para VassourasPintura a óleo de Carolus Duran – França, 1887

Rio - O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) instaurou um inquérito civil para apurar o estado de conservação de um patrimônio histórico deixado para a população de Vassouras por Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930), investidora, filantropa e herdeira de uma família tradicional do ciclo do café, no século XIX, com origens na cidade do Centro-Sul Fluminense.
De acordo com o que foi levantado até o momento pelo MPRJ, por meio da Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Vassouras, bens como o Hospital Eufrásia Teixeira Leite, o antigo Colégio Regina Coeli e o prédio do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que foram doados para atender à educação e à saúde do município, estão desativados e em avançado estágio de deterioração.
“O testamento da Eufrásia destina recursos para a Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, colégios e outras instituições. O dinheiro foi doado para a construção desses prédios, que estão sendo questionados agora”, explica o professor Rui Aniceto, do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
O MPRJ destacou que o objetivo do inquérito é garantir o cumprimento da função social dos imóveis, conforme disposto no testamento de Eufrásia - uma das primeiras mulheres a operar na Bolsa de Valores de Paris. A partir de documentos históricos e imagens atuais dos imóveis abandonados, além do testamento original, o órgão busca a responsabilização por omissão e desvio da destinação original dos bens.
O professor Aniceto observa que Eufrásia - que chegou a namorar o embaixador e diplomata Joaquim Nabuco (1849-1910), mas nunca se casou para manter a gestão de seus negócios - fazia parte de uma elite da época que costumava fazer grandes doações: “Eles viam a benemerência, o cuidado assistencial, às vezes até de inspiração religiosa, a coisa da caridade, como um elemento importante da constituição do padrão de vida da elite brasileira do século XIX”.
Junto ao abandono histórico e cultural, o MPRJ verificou também riscos sanitários nos imóveis, como água parada e proliferação de insetos. Órgãos municipais e estaduais foram notificados para que providenciem urgentemente medidas de preservação, fiscalização e possível tombamento dos bens.
A investigação tem como alvos a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, atual gestora do patrimônio, a Prefeitura Municipal de Vassouras e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A reportagem tenta contato com os citados.