Quando me deparei com os dados mais recentes do Censo Demográfico 2022, senti um misto de alerta e responsabilidade. Segundo o levantamento, 2,4 milhões de brasileiros foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que representa 1,2% da população.
O número é expressivo, mas ainda mais impactante quando observamos que a maior prevalência está entre crianças de 5 a 9 anos, com 2,6%. E, nesse grupo, os meninos representam 3,8%.
Como mãe, mulher e profissional engajada nas questões de inclusão, isso me faz refletir sobre o quanto ainda precisamos avançar para garantir um mundo verdadeiramente acolhedor para essas crianças — e para suas famílias, que muitas vezes enfrentam jornadas solitárias e exaustivas.
Conversei com a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, e uma coisa ficou muito clara: não basta apenas reconhecer o número de diagnósticos. Precisamos transformar essa realidade em ações concretas. Segundo ela, é urgente promover mudanças estruturais na educação, no mercado de trabalho e, sobretudo, na vida social. Inclusão não pode ser um discurso bonito: ela precisa ser vivida, sentida e praticada todos os dias. Veja o que Bárbara comentou sobre importantes pontos relacionados à inclusão:
Educação: além da matrícula, é preciso pertencimento
"A presença de crianças autistas nas escolas não pode se limitar à matrícula. É fundamental que haja formação continuada para os educadores, adaptação curricular e ambientes sensoriais adequados", afirma Calmeto. Ela ressalta que, apesar de avanços legais, como a Lei Brasileira de Inclusão, ainda existem barreiras significativas no sistema educacional. Dados indicam que 19,5% das pessoas com deficiência são analfabetas, e apenas 7% possuem ensino superior.
Mercado de trabalho: inclusão real e não apenas cumprimento de cotas
No mercado de trabalho, a realidade é desafiadora. Estima-se que 85% dos autistas estejam desempregados no Brasil. A diretora do Autonomia Instituto enfatiza que "a inclusão precisa ir além do cumprimento de cotas; é necessário criar ambientes de trabalho que respeitem as particularidades sensoriais e sociais dos autistas, oferecendo e adequado para que possam desempenhar suas funções com autonomia".
Vida social: combater o capacitismo e promover a empatia
A vida social das pessoas autistas também requer atenção. Bárbara destaca que "o capacitismo ainda é uma barreira significativa. É essencial promover campanhas de conscientização que valorizem a neurodiversidade e incentivem a empatia, para que as pessoas autistas sejam respeitadas em sua individualidade e tenham suas necessidades reconhecidas".
A neuropsicóloga conclui que os dados do Censo 2022 devem servir como um chamado à ação para toda a sociedade: "é imperativo que políticas públicas sejam implementadas de forma eficaz, garantindo que as pessoas autistas tenham o a uma educação de qualidade, oportunidades no mercado de trabalho e uma vida social plena e respeitosa".
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