Veja ilustre amigo o aprazível tipo faceiro que ou ao seu lado. Calça apertada, estrangulando as canelas, sem usar polainas e sem gravata borboleta. A bengala, hoje em dia, não faz parte do traje. É arma de defesa. O chapéu Palhinha virou boné de marca de cerveja. Polainas? Que isso? Colete? Só aquele que protege dos tiros dos ladrões. Ah, a Belle Époque...
Não se usa mais xaropes. Cervejas artesanais estão na moda. Já repararam na quantidade de anúncios da bebida? Refrigerantes perdem feio. Não existem anúncios de cigarros. O tal belo tipo usa bermudas, camisetas de marcas e tênis caríssimos. Oh, saudade da sandália Charlotte...
E suspensórios? Desapareceram do planeta. Eu ainda tenho uns três, mas nem me atrevo a usar. O que vão pensar ao ver tal apetrecho? Ah, não esqueci das anáguas das mulheres. Não entendo muito do vestuário delas. Mas, já cansei de ir a velórios e enterros onde elas, e eles, estão de bermudas, camisetas e tênis. Incrível! Não posso falar das roupas dos defuntos. Ficam, geralmente, cobertos de flores.
Nas várias idas ao consultório do doutor Adolfo, o cara que me mantém vivo, ele está trajando terno e gravata. Já a maioria dos pacientes usa vestes tipo esportivas. Até eu! Vou mudar, prometo, doutor. Somente assim usarei a gravata comprada em Roma - a patroa quase esqueceu de colocar na bagagem - e o sapato bico fino, cromo alemão, esquecido já tem mais de 10 anos. Não lembrarei da cueca "samba canção". É coisa íntima.
Vejam bem: um amigo de fé, irmão camarada, morreu. Incrível! A viúva estava de bermuda no enterro!!! Eu? Vesti terno e gravata, encarando um calor de Saara. Não resisti: na saída, bem em frente ao cemitério, ali no Caju, guardei a gravata no bolso e entornei uma cerveja bem gelada. Minha homenagem póstuma ao dito cujo. Tirei o paletó e pendurei no dedo indicador, esquerdo e segui. Viva ao falecido. Ih, fiquei estarrecido quando a viúva se aproximou:
- Aceita um copo? Perguntei.
- Claro foi a resposta dela antes mesmo que eu completasse o convite.
- Aceita um copo? Perguntei.
- Claro foi a resposta dela antes mesmo que eu completasse o convite.
E me confidenciou que o defunto vestiu o único terno do filho.
- Não foi enterrado com a melhor roupa porque não tinha, o jeito foi usar o terno do filho.
- Não foi enterrado com a melhor roupa porque não tinha, o jeito foi usar o terno do filho.
Diante disso. Pedi outra cerveja.
Ah, e arregacei as mangas da camisa social.
Lembrei da história que um juiz amigo me contou. Ele era amigo de outro magistrado que num dia havia esquecido em casa a toga (aquela capa que juízes usam). Para ajudar o colega, ele emprestou a sua, que ficava num armário do gabinete. Dias depois, veio a notícia que o amigo havia falecido. Ao chegar ao velório, a surpresa: lá estava a sua toga vestindo o morto.
O que fazer? Alguém despe um falecido?
O jeito foi se despedir do amigo e da toga
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