Cerca de 15 gatos circulam pelo parque, além de patos, gansos e um pavão fêmea; ambiente está insalubreDivulgação


No alto do bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, um pequeno refúgio verde agoniza silenciosamente, longe dos olhos do poder público e da proteção da sociedade. O Parque Recanto do Trovador, uma das poucas áreas arborizadas abertas da região, se tornou cenário de uma denúncia alarmante: a morte suspeita de pelo menos 13 gatos nos últimos dias. Os corpos dos animais, em diferentes estados de decomposição, foram encontrados por protetores que atuam na área há anos. Eles relatam sinais de possível envenenamento, ataque de cães e total ausência de vigilância.
Segundo voluntárias do grupo @gatinhosdoparque, responsável pelo cuidado dos felinos da área, os óbitos vêm ocorrendo desde meados de maio e, em alguns casos, foram encontrados sacos de ração com um pó escuro e pequenos grânulos. “Acreditamos que seja chumbinho. Mesmo assim, a recorrência e o padrão das mortes nos deixam quase certas de que foi envenenamento”, conta Beatriz Marinho, protetora do parque.
Na última terça-feira (27) a Secretaria Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal (SMPDA) esteve no local e retirou o corpo de três gatos e um saco com ração encontrado pelas protetoras, para análise no Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman.
A protetora explica que, com ajuda de doações, retirou pelo menos 20 gatos em situação emergencial do local. Mas outros 15 ainda permanecem soltos no parque, em risco. “Eles estão à mercê da própria sorte. Já tentei todas as vias oficiais da Secretaria Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal, mas a resposta foi de que a Fazenda Modelo está lotada. É desesperador. Eu estou nesse parque há mais de 10 anos e lamento não ter conseguido resolver isso antes. Só queria que eles estivessem seguros”, desabafa.
Atualmente, quatro pessoas fixas cuidam dos gatos no modelo CED — captura, esterilização e devolução — com pós-operatório feito em suas próprias casas. Também promovem adoções responsáveis com o apoio de uma ONG e um pet shop da região. “O abandono é comum, principalmente de novembro a fevereiro. Já encontramos ninhadas inteiras largadas em caixas”, conta uma das voluntárias. “Mas agora a situação chegou a outro nível. Estão morrendo um por um.”
Um parque histórico, mas esquecido
O Parque Recanto do Trovador foi inaugurado em 1888 como o primeiro Jardim Zoológico do Rio, criado pelo Barão de Drummond. Foi fechado em 1940, com os animais transferidos para a Quinta da Boa Vista. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e com gradis protegidos pela Prefeitura, o espaço hoje se encontra em avançado estado de degradação.
Desde 2018, o parque foi adotado pelo Instituto Eventos Ambientais (IEVA), dentro de um programa municipal de adoção de áreas públicas. A proposta previa atividades como tratamento do lago artificial, conservação de estruturas históricas e instalação de placas educativas. Na prática, moradores relatam abandono completo.
“O que se vê aqui é abandono total. A água do lago fede, parece esgoto. Os brinquedos da área infantil estão quebrados, a iluminação está quase toda apagada, e o mato cresce até a canela”, diz Dário Gonçalves, adestrador e frequentador. “Queremos um espaço decente para as crianças, para os idosos, para os animais. É muita tristeza ver o parque assim.”
Outro morador, servidor público de 56 anos, resume: “Esse parque fez parte da minha infância. Hoje está largado, escuro, sujo. É um lugar que poderia ser um orgulho da zona norte e virou um risco à saúde pública.
Risco de doenças e insegurança constante
O lago artificial do parque acumula lixo e esgoto. Patos, gansos e um pavão fêmea ainda circulam pelo local, alimentados apenas por voluntários. Segundo os cuidadores, o IEVA não garante alimentação. “Eles não vêm e não deixam ninguém responsável. Se a gente não trouxer comida, os bichos am fome”, dizem.
Segundo denúncia de moradores, pelo menos 40% das luminárias estão apagadas, segundo levantamento feito por frequentadores. Áreas como a quadra esportiva, a pista de skate e os os laterais estão no escuro total. As grades tombadas são constantemente furtadas, e o parque não tem vigilância fixa da Guarda Municipal.
Moradores em situação de rua utilizam o parque para dormir, e festas clandestinas com som alto e lixo são frequentes. “Faltam banheiros, falta segurança, falta tudo”, diz Ricardo Santos da Silva, tutor de cães que visita o local todos os dias. “Venho porque meus cães precisam correr, mas fico sempre com medo. Nunca se sabe o que pode acontecer aqui”.
Ajuda urgente: o apelo dos protetores
Protetores afirmam que têm diversos protocolos enviados à Fundação Parques e Jardins com pedidos de limpeza, manutenção e retirada dos animais em risco. Em vão. As casinhas dos gatos — feitas por voluntários — estão se desfazendo sem qualquer reparo. “Levam tudo: ração, potes, telhas. Já amos madrugadas procurando gato doente. E agora estão sendo mortos, um a um. O que mais a gente precisa mostrar pra que alguém faça alguma coisa">“Eu estou nesse parque junto a voluntarias, sempre cuidando desses gatos que são abandonados. Fizemos de tudo. Entramos em contato com a Secretaria diversas vezes, pedimos socorro. Mas a única resposta era que não podiam resgatar porque não tinham espaço. Em caráter de emergência, conseguimos retirar 20. Mas ainda restam 15 aqui, completamente vulneráveis. E eu sinceramente temo pela vida deles. Isso é muito doloroso”.
No alto do bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, um pequeno refúgio verde agoniza silenciosamente, longe dos olhos do poder público e da proteção da sociedade. O Parque Recanto do Trovador, uma das poucas áreas arborizadas abertas da região, se tornou cenário de uma denúncia alarmante: a morte suspeita de pelo menos 13 gatos nos últimos dias. Os corpos dos animais, em diferentes estados de decomposição, foram encontrados por protetores que atuam na área há anos. Eles relatam sinais de possível envenenamento, ataque de cães e total ausência de vigilância.
Segundo voluntárias do grupo @gatinhosdoparque, responsável pelo cuidado dos felinos da área, os óbitos vêm ocorrendo desde meados de maio e, em alguns casos, foram encontrados sacos de ração com um pó escuro e pequenos grânulos. “Acreditamos que seja chumbinho.  Mesmo assim, a recorrência e o padrão das mortes nos deixam quase certas de que foi envenenamento”, conta Beatriz Marinho, protetora do parque.
Na última terça-feira (27) a Secretaria Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal (SMPDA) esteve no local e retirou o corpo de três gatos e um saco com ração encontrado pelas protetoras, para análise no Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman.
A protetora explica que, com ajuda de doações, retirou pelo menos 20 gatos em situação emergencial do local. Mas outros 15 ainda permanecem soltos no parque, em risco. “Eles estão à mercê da própria sorte. Já tentei todas as vias oficiais da Secretaria Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal, mas a resposta foi de que a Fazenda Modelo está lotada. É desesperador. Eu estou nesse parque há mais de 10 anos e lamento não ter conseguido resolver isso antes. Só queria que eles estivessem seguros”, desabafa.
Atualmente, quatro pessoas fixas cuidam dos gatos no modelo CED — captura, esterilização e devolução — com pós-operatório feito em suas próprias casas. Também promovem adoções responsáveis com o apoio de uma ONG e um pet shop da região. “O abandono é comum, principalmente de novembro a fevereiro. Já encontramos ninhadas inteiras largadas em caixas”, conta uma das voluntárias. “Mas agora a situação chegou a outro nível. Estão morrendo um por um.”
m parque histórico, mas esquecido
O Parque Recanto do Trovador foi inaugurado em 1888 como o primeiro Jardim Zoológico do Rio, criado pelo Barão de Drummond. Foi fechado em 1940, com os animais transferidos para a Quinta da Boa Vista. Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e com gradis protegidos pela Prefeitura, o espaço hoje se encontra em avançado estado de degradação.
Desde 2018, o parque foi adotado pelo Instituto Eventos Ambientais (IEVA), dentro de um programa municipal de adoção de áreas públicas. A proposta previa atividades como tratamento do lago artificial, conservação de estruturas históricas e instalação de placas educativas. Na prática, moradores relatam abandono completo.
“O que se vê aqui é abandono total. A água do lago fede, parece esgoto. Os brinquedos da área infantil estão quebrados, a iluminação está quase toda apagada, e o mato cresce até a canela”, diz Dário Gonçalves, adestrador e frequentador. “Queremos um espaço decente para as crianças, para os idosos, para os animais. É muita tristeza ver o parque assim.”
Outro morador, servidor público de 56 anos, resume: “Esse parque fez parte da minha infância. Hoje está largado, escuro, sujo. É um lugar que poderia ser um orgulho da zona norte e virou um risco à saúde pública.