Irmãos ocultaram o cadáver do pai em casa. Polícia acredita que corpo foi mantido para que eles pudessem receber benefícios financeirosDivulgação / Polícia Civil

Rio - A Justiça do Rio converteu de temporária para preventiva a prisão dos irmãos Marcelo Marchese D’Ottavio e Tania Conceição Marchese D’Ottavio. Eles foram detidos em flagrante, na quarta-feira (21), por ocultação do cadáver do próprio pai Dário Antonio Raffaele D’Ottavio, 88 anos, na Ilha do Governador, Zona Norte. A audiência de custódia aconteceu na tarde deste sábado (24).

Os dois permanecem internados em unidades psiquiátricas, já que apresentaram possíveis transtornos psicológicos. Por isso causa disso, os irmãos não participaram da sessão. Após alta dos custodiados, uma nova audiência deverá ser realizada para que possa ser apurada a ocorrência ou não de agressão policial no momento do flagrante.

Na ocasião, os agentes foram impedidos de entrar na casa dos irmãos, que resistiram a ação dos policiais. Logo em seguida, em um dos cômodos, o corpo da vítima foi encontrado já em estado avançado de decomposição.
Idoso recebia benefícios previdenciários
Segundo investigações, o idoso recebia benefícios previdenciários, o que aumenta a suspeita de que os filhos estavam se aproveitando financeiramente da morte do pai. De acordo com a perícia, o corpo teria ficado mais de seis meses escondido na casa da família.

"As diligências iniciais revelaram que o falecido era titular de dois benefícios previdenciários ativos junto ao INSS, sendo um de aposentadoria e outro de pensão por morte, o que reforça suspeitas sobre possível motivação financeira por parte dos indiciados. Essa linha de apuração segue sob análise, sem prejuízo da consideração de outras hipóteses investigativas", destacou o delegado da 37ª DP (Ilha), Felipe Santoro. Durante perícia na residência, os agentes também encontraram bens aparentemente novos, o que reforçou a tese.

Vizinhos relatam brigas

Três testemunhas ouvidas pela polícia contaram que não viam Dario desde novembro de 2023 e aram a notar comportamentos estranhos dos filhos dele. "Por diversas vezes ouvi Marcelo gritar: 'Eu matei meu pai', do muro da casa, esbravejando em alto e bom tom", explicou uma vizinha que mora na mesma rua.

Os moradores da região estranharam o sumiço repentino, especialmente porque, mesmo após a morte da companheira, Dário mantinha uma rotina ativa, cuidando do carro na garagem e aparecendo na calçada. Ainda segundo os vizinhos, o idoso tinha uma situação financeira confortável.

De acordo com eles, Marcelo e o seu pai brigavam constantemente, na maioria das vezes por causa de dinheiro. Em uma das discussões, o homem teria ordenado que o idoso o entregasse o cartão do banco e a senha.

Denúncias ignoradas por anos

A descoberta do corpo só foi possível após anos de denúncias ignoradas por diferentes órgãos. Vizinhos afirmam ter buscado ajuda da assistência social, da Polícia Militar, do Conselho Tutelar e até do Fórum da Ilha do Governador. Entretanto, nenhuma autoridade conseguiu entrar no imóvel sem mandado judicial.

Mesmo com um vazamento de água que afetava casas vizinhas, Marcelo impediu a entrada de terceiros para consertar o problema. O corte no fornecimento, ocorrido há cerca de seis meses, aumentou ainda mais as suspeitas.

"Ele dizia que tinha jogado o corpo do pai no lixo porque não tinha dinheiro para enterrar. A gente denunciava, mas ninguém entrava na casa. Os órgãos vinham, mas ele não deixava ninguém entrar", contou outra testemunha à 37ª DP.

Segundo relatos, Marcelo apresentava sinais evidentes de transtornos mentais. Ele falava sozinho, andava desleixado e frequentemente ofendia a irmã, com quem dividia a residência.

Vídeo mostra onde corpo estava

Um vídeo mostra o momento em que os filhos são presos pela Polícia Civil. Nas imagens, também é possível ver o corpo do homem deitado em cima de uma cama dentro da casa em que eles moravam.