GUSTAVO GUIDAdIVULGAÇÃO

É importante entender a vivência da gravidez como uma maratona, e não um momento. A preparação que acontece antes mesmo da fecundação é relevante para maior chance de sucesso no final dessa jornada única.

O pré-concepcional ideal vai ser individualizado para cada paciente, mas alguns cuidados são válidos para todas. A atualização da vacinação e a avaliação de condições comuns, como diabetes e hipertensão, fortemente associadas à pré-eclâmpsia, à prematuridade e a complicações gestacionais, podem ser realizadas ainda no início desse processo. A orientação para mudanças de estilo de vida, com a adoção de atividades físicas adequadas e uma alimentação consciente, terá impacto positivo para muito além de uma futura gestação.

A avaliação ginecológica objetiva garantir a saúde integral da mulher. Por meio de exames, podemos avaliar o colo uterino e o endométrio e abordar precocemente fatores complicadores da gestação. Exames de imagem para a avaliação da cavidade uterina e das trompas – como a video-histeroscopia e a histerossalpingografia – permitem resolver problemas comuns, como sinequias, que são aderências ou cicatrizes que se formam no interior do útero, pequenos miomas e obstrução tubária. Na avaliação da endometriose, a ressonância nuclear magnética pode ser decisiva para um diagnóstico mais assertivo.

Dependendo da idade e da história hormonal e do ciclo menstrual da paciente, avaliações específicas, como de reserva ovariana, medida de forma indireta pelo hormônio anti-mülleriano ou por meio da ultrassonografia seriada, podem ajudar no processo decisório entre uma gestação por via natural ou por reprodução assistida.

Para casais com história pessoal ou familiar conhecida de doenças genéticas, o aconselhamento gênico antes da gravidez pode ajudar a decidir quais são os melhores exames e as estratégias de prevenção mais relevantes. O surgimento de exames como o de Portadores (PCGT) permite avaliar o risco dos futuros pais para doenças recessivas antes da gestação – casais em situação de risco podem optar pela seleção de embriões durante a reprodução assistida, por exemplo.

Algumas sociedades médicas já orientam que todo casal que planeja uma reprodução deveria ser informado sobre a possibilidade de realizar esse teste, independentemente da história familiar de doenças genéticas – até metade dos casais que descobrem risco aumentado para condições genéticas por meio desse exame não tinha casos conhecidos na família.

No preparo de exames hormonais e de imagem, principalmente quando usados para avaliar momentos específicos do ciclo, é importante que a avaliação seja realizada na época correta, lembrando que muitos exames devem ser calculados com base no ciclo real da mulher, respeitando a diferença que existe entre cada corpo.
Gustavo Guida é médico geneticista do laboratório Sérgio Franco, da Dasa