Suárez e Messi terão dura missão com o Inter Miami no Mundial de ClubesMegan Briggs / Getty Imagens North America / Getty Images via AFP

Apesar da pouca tradição, os Estados Unidos serão o centro do futebol mundial nos próximos dois anos - a começar pela abertura do novo Mundial de Clubes neste sábado (14). Ao todo, três clubes representarão a Major League Soccer (MLS), principal liga futebolística dos EUA, no torneio: Inter Miami, Los Angeles FC e Seattle Sounders. 
As equipes da casa chegam em momentos distintos para a competição. Além disso, terão de lidar com o desafio de estarem inseridas em grupos complicados.

Inter Miami

A conquista da ers' Shield - troféu dado a equipe com melhor campanha na fase classificatória da MLS - na temporada ada garantiu o lugar do Inter Miami como representante do país anfitrião no Mundial. No sorteio, caiu no Grupo A, ao lado de Al Ahly (EGI), Palmeiras e Porto. 
Apesar de estar em terceiro na Conferência Leste, o time comandado por Javier Mascherano está longe de convencer. A recente eliminação na semifinal da ConcaChampions para o Vancouver Whitecaps, de forma humilhante, e a crise do sistema defensivo - 29 gols sofridos em 15 jogos - dificultam a esperança por uma boa campanha. 
"A temporada não é boa, é de mais dúvidas do que de certezas. Vivem um problema com o Mascherano, com atuações patéticas. De fato, muito aquém das expectativas. Ajustou a defesa no início da temporada, mas, nos últimos jogos, caiu bastante. Até goleou recentemente, o que traz um pouco de esperança, mas, mesmo assim, não tira a temporada irregular do Inter Miami. Os destaques do time, Messi, Suárez, Busquets e Alba, estão um ano mais velhos. Isso pesa muito para o desempenho da equipe, muito dependente desses jogadores", disse Tiago Brandão, jornalista brasileiro que é especialista em MLS, a O DIA
Ter nomes como Lionel Messi e Luis Suárez pode ser um fator diferencial. Mesmo que sofra vários gols, a equipe também balança as redes com frequência, principalmente por ter os craques em campo. 
"Joga de maneira ofensiva. Fator Messi e Suárez pesa muito. Time tem a posse, trabalha, não joga de forma reativa. É um time que tem que ter a posse para conseguir render. Os pilares do time tem idade mais avançada, precisam da bola. Procuram a dupla a todo o tempo", complementou. 
Mesmo com o fato do Inter Miami "viver e morrer" pelos craques, o clube da Flórida também tem outros nomes de destaque no elenco. Embora pouco conhecidos, o venezuelano Telasco Segovia e o argentino Tadeo Allende merecem reconhecimento. Este último, inclusive, "é um jogador interessante, para ficar de olho", segundo o jornalista.
Uma chance de classificação, porém, é vista por ele como "imprevisível": "Messi e Suárez podem decidir e, com isso, o time ar. Mas não é favorito. Palmeiras e Porto estão bem à frente".

Los Angeles FC

Se por um lado o Miami não está bem, o Los Angeles FC chega motivado. A equipe se classificou após derrotar o América (MÉX) em um playoff para definir quem iria ocupar o lugar deixado pelo León (MÉX). A vitória drámatica colocou o clube no Grupo D, com Chelsea, Espérance (TUN) e Flamengo. 
Mesmo com astros como Olivier Giroud e Hugo Lloris, quem rouba a cena é o gabonês Denis Bouanga. No jogo contra os mexicanos, o atacante fez chover e foi peça-chave na classificação. Para Tiago Brandão, ele é o "craque" do time e a principal arma ofensiva. 
"É um time de transição rápida, de velocidade. Tem bons meio-campistas que conseguem fazer essa transição com muita tranquilidade para o ataque. É um dos melhores elencos da MLS, se não o melhor. Tem boas opções em todas as posições. A principal valência é usar da velocidade dos pontas (Bouanga e Martínez). Acho que o time rende melhor dessa maneira, quando tem espaço para correr", afirmou. 
Denis Bouanga está em alta no Los Angeles FC e é o cara do time - Divulgação / LAFC
Denis Bouanga está em alta no Los Angeles FC e é o cara do timeDivulgação / LAFC
Após uma oscilação no início da temporada, o Los Angeles FC ostenta uma sequência de dois meses sem perder - cinco vitórias e cinco empates - e é o quinto na Conferência Oeste. Entretanto, o desafio para manter a invencibilidade será duro, já que o primeiro compromisso no Mundial é contra o Chelsea. 
Pensando em classificação, o duelo com o Flamengo, na última rodada da fase de grupos, é visto como decisivo por Tiago. 
"O Los Angeles FC precisa ganhar do Flamengo, acho que a conta é essa. O Chelsea é o principal time do grupo. Flamengo é bem favorito, mas vejo possibilidades do Los Angeles vencer o Flamengo. Não acho impossível. E vencendo o Flamengo, tende a classificar. Acho que o Espérance vai ser o saco de pancadas no grupo", analisou. 

Seattle Sounders

Dos três clubes dos Estados Unidos, o Seattle Sounders tem a tarefa mais complicada. Afinal, está junto de Atlético de Madrid, PSG e Botafogo no Grupo B. A possibilidade de avançar para o mata-mata é vista como "praticamente impossível" pelo especialista. Contudo, jogarão as três partidas da chave em casa e terão o apoio da torcida, considerada uma das melhores da MLS.
Tradicionais no país, os Sounders carimbaram a vaga em 2022 com o maior título de sua história: a Liga dos Campeões da Concacaf. Em sexto na Conferência Oeste, o trabalho longo de oito anos de Brian Schmetzer caracterizou a equipe como "competitiva", mas longe de "dar show".
"É um time de muita marcação, competitivo. Não vai dar show, não marca muitos gols, mas também não leva. Quando joga em casa, costuma se impor. O time é adaptável às condições do jogo. No Mundial, deve jogar sem a bola em todos os jogos, mas vai competir", assegurou o jornalista do 'Território MLS'.
Não há uma estrela em Seattle, como em Miami e Los Angeles. O esloveno Albert Rusnák é o principal nome da equipe. O meia é uma das referências da equipe e soma bons números nesta temporada. Na MLS, marcou sete gols e anotou três assistências em 17 jogos. 

A cultura futebolística nas cidades dos times

Diferentemente do Brasil e de outros países, os Estados Unidos não respiram o futebol. Longe disso. Porém, o crescimento da MLS está proporcionando um aumento na popularidade na terra do Mickey.
Miami, por exemplo, nunca teve ligação alguma com o esporte bretão. A chegada de Messi ao clube da Flórida trouxe holofotes, e os jogos no Chase Stadium sempre estão lotados, principalmente com turistas. A torcida organizada é composta por latinos residentes, que tentam espalhar o nome do time com murais e artes pela cidade. 
Mural feito em Wynwood, em Miami, para o Inter Miami, com a legenda: 'casa de ícones' - Divulgação / Inter Miami
Mural feito em Wynwood, em Miami, para o Inter Miami, com a legenda: 'casa de ícones'Divulgação / Inter Miami
Já Los Angeles tem uma atmosfera completamente diferente. Com uma "cultura mais latina" de se viver o futebol, a torcida deu show no jogo contra o América-MÉX. Veja o vídeo abaixo
O Seattle Sounders, por sua vez, foge à regra. A cidade respira esporte - seja com os Seahawks, na NFL, ou, no ado, com o extinto SuperSonics, na NBA. A torcida sempre foi tradicional e fanática. Após a transferência da franquia no basquete para Oklahoma, a população abraçou o futebol. No Lumen Field, o apoio é constante do primeiro ao último minuto. 
Antes de todos as partidas, acontece o 'march to the match' (caminhada para a partida, em português), que é uma tradição de 20 anos. Por lá, muita cantoria e sinalizadores acesos embelecem a atmosfera pré-jogo.
Torcida do Seattle Sounders fazendo festa do lado de fora do Lumen Field antes de jogo - Steph Chambers / Getty Images North America / Getty Images via AFP
Torcida do Seattle Sounders fazendo festa do lado de fora do Lumen Field antes de jogoSteph Chambers / Getty Images North America / Getty Images via AFP

A evolução da MLS

O desenvolvimento da competição é cristalino e a por três fases. A primeira começa em 1996, ano em que a liga foi criada como exigência da Fifa, pouco depois da realização da Copa do Mundo em solo americano. O objetivo inicial era popularizar o futebol no país, e o campeonato começou com dez equipes, em um formato experimental. No entanto, a estrutura ainda era distante do ideal. 
Após algumas dificuldades financeiras, a MLS teve sua virada de chave em 2007, com a chegada de David Beckham ao LA Galaxy. A contratação gerou mídia, trouxe dinheiro e aumentou a popularidade. Além disso, abriu as portas para que outros craques seguissem os os do inglês, como Thierry Henry, Kaká, Pirlo, Rooney, Ibrahimovic, entre outros.  
Nos dias atuais, a liga é completamente diferente. Grande parte dos clubes contam com seus próprios estádios, sem ficar dependentes do futebol americano. Se há 29 anos eram apenas dez times, o número triplicou e pode aumentar nos próximos anos. Os jogos também estão com mais público nas arquibancadas.
Além disso, a MLS começou a focar na formação de jovens. Nomes como Timothy Weah e Weston McKennie, da Juventus; Giovanni Reyna, do Borussia Dortmund; e Tyler Adams, do Bournemouth; saíram de clubes americanos direto para a Europa. 
Outro ponto é o scouting. Times da competição começaram a explorar mais os mercados, principalmente o sul-americano. Não à toa, grandes clubes, como o Botafogo, começaram a observar a liga como uma grande "mina de ouro" na hora de contratar.
"Acho que é um fator interessante. A MLS vem evoluindo muito, é a liga que mais evoluiu nos últimos anos. Tem só 30 anos de liga. A MLS ainda busca se encontrar, mas cresceu demais. Muitos jogadores jovens chegando, promessas", opinou Tiago Brandão. 

Estados Unidos estão preparados para receber o Mundial e a Copa? 

O Mundial de Clubes é visto como um teste importantíssimo para os Estados Unidos, em relação à Copa do Mundo de 2026. O país será sede do torneio de seleções, ao lado de Canadá e México. 
O forte calor será um ponto a se observar. Isso porque o verão em solo americano começará no próximo dia 20, e grande parte dos jogos da competição de clubes acontecerão de dia. Altas temperaturas estão previstas em praticamente todas as cidades-sede.
Porém, a questão do gramado deverá ser o principal ponto. Na Copa América de 2024, o assunto foi comentado de forma constante por jogadores, que criticaram o padrão abaixo dos campos nos estádios. Por isso, para este ano e o próximo, a Fifa exigiu que as arenas possuam o tamanho padrão de 105m x 68m e grama natural
"Com certeza está preparado (para receber Mundial e Copa). Os Estados Unidos recebem eventos de grandeza mundial há muito tempo. Vai receber a Copa do Mundo, Olimpíada e o Mundial de Clubes. Tem poucos países no mundo preparados nesse nível. Junto à Copa de Clubes, inclusive, terá a Copa Ouro. É um país extremamente preparado para receber eventos desse porte", finalizou Tiago Brandão. 
*Matéria do repórter Theo Faria e do estagiário Lucas Dantas