Leo Lins foi condenado a oito anos e três mesesReprodução / YouTube
Em um vídeo divulgado nesta quinta-feira (5) no YouTube, o humorista apareceu em casa, com semblante sério, e afirmou que falava como Leonardo de Lima Borges Lins, seu nome de registro civil, e não como o personagem Léo Lins. "Esse vídeo não é piada. Eu tô em casa, com meus gatos, aqui a pessoa é Leonardo de Lima Borges Lins, e não o comediante Léo Lins, uma persona cômica criada ao longo de anos, que faz piadas ácidas, críticas, e que sabe que nem todas as piadas são para todas as pessoas."
Lins declarou ter lido toda a sentença antes de se manifestar. Segundo ele, acompanhou os debates nas redes sociais e na mídia. Um dos pontos que mais criticou na decisão judicial foi a utilização de um site colaborativo como base para o julgamento. "Sabe qual foi um dos embasamentos teóricos da juíza que me condenou a mais de 8 anos de cadeia? A Wikipedia. E isso não é uma piada."
O humorista também questionou a interpretação do magistrado sobre a possibilidade de responsabilizar juridicamente um personagem cômico. "Mesmo que fosse um personagem, ainda assim há crime", diz um trecho da sentença citado por ele. Léo rebateu: "Porque, se um personagem pode cometer um crime, agora dá para prender a atriz que faz a vilã da novela, o ator que faz o vilão no filme, na série."
No vídeo, Lins apontou o que considera um momento preocupante no debate público: "Estamos vivendo uma das maiores epidemias dos últimos tempos, a da cegueira racional. Os julgamentos são feitos puramente baseados em emoção. Ninguém quer mais ouvir o próximo. Quer, no máximo, convencê-lo da sua própria verdade."
Para o comediante, a decisão judicial abre margem para o controle do pensamento e da expressão. "Concordar com sentenças como essa é um atestado de que somos adultos infantiloides, sem a menor capacidade de discernir o que é bom ou ruim para nós, e que precisamos de um Estado dizendo do que podemos rir, o que podemos ouvir, o que podemos comer, o que podemos falar e, até um dia, o que podemos pensar."
Lins ainda mencionou agressões físicas que sofreu por conta de piadas e criticou a noção de que o humor pode estimular crimes. "Eu acho mais problemático quando, ao ouvir uma piada, a pessoa, em vez de rir, reage com ódio. [...] E ainda assim, invertem essa lógica para fazer parecer que as pessoas que riem de determinadas piadas têm grande chance de cometer atos de ódio e preconceito."
No fim da gravação, agradeceu o apoio recebido. "Recebi milhares de mensagens, confesso, foi acima da minha expectativa, de pessoas se posicionando a meu favor. [...] Como eu sempre falo, a melhor piada do mundo, sem alguém para rir, não tem graça. A comédia é feita para o próximo. Por isso, eu espero retribuir tudo isso em risadas."
"O cara deixou assim: 'Sou gordo! Adoro comer e não gosto de fazer exercício. Como vou emagrecer?' Pegando Aids! Você não adora comer de tudo? Sai comendo gay sem camisinha! Uma hora vai dar certo! Essa piada pode parecer um pouco preconceituosa, porque é.'"
"Uma vez eu estava num evento, o garçom chegou para mim: ‘Você quer um uísque com energético"
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