Nilo Sérgio comandou a bateria da Portela por quase 20 anosAlexandre Vidal / Divulgação Rio Carnaval

A notícia da demissão do mestre Nilo Sérgio, que comandou a bateria da Portela por quase 20 anos, deixou o mundo do samba bastante surpreso. Logo após a recém-eleita diretoria da agremiação, liderada por Junior Escafura, divulgar a dispensa, na noite desta sexta-feira (30), centenas de portelenses protestaram nas redes. Muito querido pela comunidade, que o considera um "patrimônio", Nilo também era respeitado pelas outras agremiações, principalmente por ter conseguido ficar tanto tempo no posto, além de gabaritar o quesito em diversos carnavais, como em 2025. O substituto ainda não foi anunciado.

Torcedores ilustres também se manifestaram, indignados. "O que que está acontecendo?", questionou a cantora Teresa Cristina, acompanhada pelo músico Paulão 7 Cordas, maestro da banda de Zeca Pagodinho. "[A Portela] Deveria explicar porquê, não simplesmente agradecer. Agradecer tem que agradecer sempre!", publicou.

Neta de Monarco, a cantora Juliana Diniz também se posicionou. "Parabéns, mestre! Te Amamos muito! Vai fazer falta." O compositor Ciraninho, autor de canções gravadas por Beth Carvalho, Diogo Nogueira e outros nomes, escreveu: "Não sei o que se ou mas lhe desejo tudo de melhor, irmão! Sua história é eterna. A Portela sempre será a sua casa."

Muitos internautas também reclaram da saída do mestre. "Só quatro baterias levaram 40 no último carnaval e a Tabajara foi uma delas. Aí qual decisão a escola toma? Isso mesmo: tchau, mestre", ironizou um torcedor. "A escola precisa de mudança em muita coisa, mas não em quem garante nota 40 em ano sim e no outro também. O Nilo é a cara da Portela. Inacreditável", criticou uma torcedora. "Golaço contra para essa escola", escreveu outro seguidor no Instagram oficial da Portela.

Nos bastidores, comenta-se que o apoio declarado de Nilo à chapa de Dr. Leo e Martinelli, derrotada na eleição, pesou na decisão da diretoria. Nos últimos dias vazaram, nas redes sociais, áudios de uma conversa entre Nilo e Faísca, ex-mestre do Império Serrano, em que o portelense reclama de uma conspiração para lhe tomarem o cargo. O alvo das críticas de Nilo era Vitinho, responsável pela bateria da Acadêmicos de Niterói, ex-diretor de naipe da Portela e filho de Faísca. Nos últimos dois desfiles, Vitinho comandou a bateria do Império.

'Coração apertado', diz rainha

A rainha Bianca Monteiro, que ainda não foi oficialmente confirmada para 2026, mas se reuniu com Escafura durante a semana, para conversar sobre sua permanência, também lamentou.

"Meu coração está apertado. Mestre Nilo não é só um mestre de bateria. Ele é parte da minha história e da minha caminhada. Nesse momento, é doloroso e não estou conseguindo dar conta de colocar isso em palavras. Agradeço o carinho e a compreensão de vocês".

Nilo: 'Dói porque não foi uma escolha minha'

Horas após o desligamento, Nilo se manifestou com uma carta de despedida emocionante. "Hoje é um daqueles dias difíceis de colocar em palavras. Fui desligado da Portela. Dói escrever isso. Dói porque não foi uma escolha minha. Dói porque quem conhece minha história sabe o quanto me entreguei a essa escola, o quanto vesti esse pavilhão com alma, suor e amor. Mas mesmo na dor, carrego o coração em paz. Foram 20 anos à frente da Tabajara do Samba, construindo sonhos com cada ritmista, cada ensaio, cada desfile que arrepiava a Sapucaí. E encerro esse ciclo com a certeza de ter feito história: nota máxima na bateria em 2025. Saio no auge, com a sensação de dever cumprido e com a consciência tranquila de quem sempre entregou tudo de si."

O texto continua: "O apoio da comunidade tem me emocionado profundamente. Ver a massa azul e branca se manifestando com carinho, indignação e respeito me mostra que o que construímos juntos foi verdadeiro. Não há nada que apague isso. Não há decisão que silencie um legado. Eu saio, mas saio de pé. Saio com dignidade. Saio com a cabeça erguida e a alma limpa, porque nunca fiz nada pela metade. Sempre fui inteiro com a Portela — e continuo sendo".

Por fim, Nilo afirmou: "Desejo que a águia continue voando alto, porque ela é maior do que tudo. A Portela é eterna. E enquanto houver samba em algum lugar, vou estar ali, de mãos dadas com minha história."

A nota oficial publicada pela Portela exaltou a trajetória do mestre, sem citar o motivo da demissão. "(...) Sua saída marca o fim de um ciclo, mas jamais o fim de sua presença na história da Portela e nem no coração de cada portelense."