Eduardo CaonDivulgação

Eduardo Caon tem um currículo eclético. Vencedor de vários prêmios, entre outros, por roteiro de ficção científica, é professor, bacharel e psicólogo com foco na área educacional. Também foi diretor de Comunicação e Marketing da Fundação Santa Cabrini, ferroviário e trabalhou no Departamento Geral de Ações Socioeducativas do Estado do Rio de Janeiro (Degase), onde conviveu com menores infratores. As várias experiências resultaram no livro "Legado Proibido", que será lançado no próximo dia 7, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.

SIDNEY: O senhor trabalhou em órgãos ligados a ações sociais como o Degase e a Fundação Santa Cabrini. Quais as experiências leva dessa época?

EDUARDO CAON: Trago a óbvia conclusão que somos todos humanos, mas a ignorância que tinha da profundidade desta verdade me fez quase não aceitar trabalhar com eles movido pelo preconceito. Eu era servidor da Rede Ferroviária Federal e pedi demissão porque não queria mais trabalhar na área, mas fui convidado pelo Governo do Estado a fazer um trabalho de três meses com as pessoas privadas de liberdade. Só parei décadas depois quando me aposentei. Conhecer essas pessoas e suas histórias dá a qualquer um, e não só a mim, a capacidade de entender todas as vicissitudes que sofreram antes de sucumbirem à "vida errada" como eles mesmos dizem. Mantive mais contato com três ex-menores infratores - duas meninas e um menino - e os coloquei como personagens no livro em duas agens discretas na história como forma de homenageá-los. Eles confirmaram que estarão no lançamento e lerão os trechos em que seus personagens "falam" no livro. Como professor dos ditos “menores infratores” convivi diariamente com milhares deles por anos e nas palestras abro minha fala com a pergunta: "Menores infratores já nascem bandidos?"

O Observatório de Favelas, organização sediada na Maré que visa a produção de políticas públicas em comunidades, está diretamente ligado à criação da TV Degase. Como foi isso?

Conheço o projeto por meio de um dos seus fundadores, o professor de fotografia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Dante Gastaldoni. Três alunos deste projeto me ajudaram a fazer um curso de fotografia para os menores infratores e as fotos se transformaram em exposição na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, e foi o embrião da TV DEGASE e seus prêmios.
Quais os caminhos que o levaram a escrever seu primeiro livro?
Quando eu tinha 20 anos, trabalhava na oficina da Rede Ferroviária fazendo a manutenção dos trens. Um dia, o chefe perguntou quem sabia usar computador e eu fui o único a levantar a mão. Foi o meu primeiro o diário a um computador e foi neste momento que comecei a escrever o meu livro. Quando uma oportunidade bater na porta esteja preparado pois pode ser um novo capítulo na sua vida.

Como o senhor descobriu a filosofia do minimalismo?

Comecei a ler as ideias de Diógenes e seu desapego aos bens materiais. Mais tarde, assisti a um vídeo explicando a filosofia dele de forma simples e didática, o que me motivou a me aprofundar no conceito. Eu já praticava, de forma intuitiva, a ideia de possuir apenas o necessário para viver de maneira leve, facilitando mudanças sem carregar grandes "bagagens". Publiquei uma foto do meu apartamento em Gramado com a legenda: "Optei por uma sala vazia e uma janela cheia", referindo-me à vista de várias árvores que preenchiam a paisagem.

O senhor recebeu o prêmio "Best Screenplay in a Thriller of Sci-Fi" no Asia World Awards por roteiro de ficção científica. O seu novo livro, "Legado Proibido", segue o mesmo gênero?

"Legado Proibido" é, sim, uma obra de ficção científica. Comecei a escrever aos 20 anos, portanto, o livro demorou 40 anos para ser escrito. A vida, porém, impôs adiamentos, e retomei o projeto em momentos específicos, finalizando após uma neurocirurgia no final do ano ado. As duas semanas de internação e reflexão me deram o impulso necessário para concluir o livro. Antes do lançamento na Cidade das Artes, em 7 de junho, e na Bienal, em 15 de junho, leitores beta, como meu amigo Romeo Riegel, membro-fundador da Academia Gramadense de Letras e Artes, ofereceram impressões valiosas. Romeo destacou: "Uma abordagem intelectual e refinada da ficção científica, que vai além do materialismo. 'Legado Proibido' conecta temas complexos com uma narrativa literária brilhante e emocionalmente equilibrada". Esse retorno me fez perceber que minha formação em psicologia permeia a obra, enriquecendo sua profundidade emocional e intelectual.

Baseado no seu livro, o senhor acredita que exista vida fora da Terra?
Em "Legado Proibido" exploro a possibilidade de vida extraterrestre como um reflexo dos anseios e dilemas da humanidade, sem afirmar sua existência. Como fã de ficção científica que analisa nossa sociedade, vejo com fascínio o debate científico: físicos defendem que a imensidão de estrelas em nossa galáxia sugere a probabilidade, enquanto biólogos questionam, apontando a complexidade quase mágica necessária para a formação de vida como a nossa. Pessoalmente, espero que gerações futuras confirmem que não estamos sós nesta vastidão que ainda escapa à nossa compreensão.