Luarlindo Ernesto (à esq.) é o mais repórter há mais tempo em O DIA; gráfico Aberlado Filho é outro patrimônio do jornalArquivo / Agência O Dia
Jornal O DIA completa 74 anos como símbolo do jornalismo carioca
Veículo, que se consolidou como o 'jornal do Rio', mantém tradição na cobertura local e proximidade com leitor
Rio - O jornal O DIA celebra, nesta quinta-feira (5), 74 anos de existência, consolidado como um dos principais veículos de comunicação do Rio de Janeiro. Ao longo de mais de sete décadas, ele transformou-se e adaptou-se às mudanças do jornalismo, mas sem perder sua identidade como o "jornal do Rio" e a proximidade com o leitor.
A trajetória da marca é marcada por diferentes fases editoriais que moldaram sua personalidade atual. "Eu peguei a fase do DIA que ainda era muito sanguinolento", relembra Luarlindo Ernesto, repórter-símbolo do jornal, prestes a completar 82 anos. "Depois, o Ary de Carvalho modificou a cara do jornal. E o Nuno [Vasconcellos] manteve", analisa o jornalista veterano.
"Nascemos do apoio popular e só a ele devemos dar conta dos nossos atos. Livres de quaisquer compromissos com entidades ou grupos, estaremos onde estiver o interesse coletivo e não teremos outro chefe, outro orientador, senão aquele em cujo nome falaremos sempre: o povo", diz trecho do editorial publicado na edição de estreia, em 5 de junho de 1951.
Transformações editoriais
O DIA ou por mudanças significativas em sua linha editorial ao longo dos anos. Inicialmente caracterizado por uma cobertura mais sensacionalista, especialmente no noticiário policial, o jornal evoluiu para um formato mais equilibrado, aumentando sua força na cobertura local.
"No início era a época da chacina, ainda no pós-ditadura. E o jornal dava muito ênfase ao noticiário policial", relembra Luarlindo, que trabalha no jornal desde 1979, com três agens distintas. "A publicação soube se adaptar aos novos tempos sem perder sua essência de jornal popular", avalia.
Revolução tecnológica
Uma das principais transformações vivenciadas pelo O DIA foi a revolução tecnológica, que mudou completamente os processos de produção jornalística. O jornal acompanhou a transição "do impresso ao digital", adaptando-se às novas tecnologias.
"Era linotipo, era chumbo derretido e ou a usar o computador", descreve Luarlindo sobre a mudança radical. "Depois que foi para o digital, você tinha mais tempo. Você escrevia até de casa, na rua, no carro de reportagem", enumera o repórter, destacando como a modernização beneficiou o processo de produção das matérias.
Cobertura de grandes acontecimentos
Ao longo de 74 anos, O DIA se destacou na cobertura de eventos marcantes da cidade do Rio. O jornal esteve presente em momentos históricos importantes, sempre com equipes dedicadas a levar informação de qualidade aos leitores.
A Chacina de Vigário Geral, em 1993, foi um dos casos mais emblemáticos. "Mandamos a equipe para Vigário Geral, para a favela", relembra Luarlindo sobre a cobertura do caso. "O repórter me ligou: 'Tá muito escuro, a favela tá em polvorosa, não se sabe quantos mortos'. Falei: 'não entra, espera o dia amanhecer'", conta o jornalista, destacando o profissionalismo da equipe mesmo em situações extremas.
O que marca a trajetória do DIA é o comprometimento de seus profissionais com o jornalismo de qualidade, pondera o veterano profissional de imprensa. "E assim eram nove, dez horas de trabalho, mas ninguém reclamava. Porque quem encara esse tipo de trabalho é porque ama o jornalismo", afirma Luarlindo.
Essa dedicação se reflete na versatilidade dos profissionais, que sempre se adaptaram às demandas do noticiário. "Eu fiquei como repórter, pauteiro, subchefe de reportagem, mas a maioria dos anos, o tempo todo, como repórter. De rua, de redação, fazia de tudo", detalha Luar, como é carinhosamente chamado na redação.
Presente e futuro
Aos 74 anos, O DIA segue investindo em profissionais experientes e na cobertura local, características que sempre o diferenciaram no mercado.
"Eu informo das 6h às 20h. Eu o o 'zap' de tudo que acontece na cidade", conta Luarlindo, sobre seu trabalho atual como "escuta" da redação. "O que o jornal aproveita? São 90% das matérias que eu mando", destaca ele, empolgado.
Identidade
Ao longo de sua história, o jornal sempre retratou a alma carioca. Soube captar as particularidades da cidade, contradições e a riqueza cultural, transformando-se em porta-voz das questões que realmente importam ao cidadão comum.
"O jornal manteve a cara do povo carioca sendo o jornal do Rio, do Estado do Rio", avalia Luarlindo. Tal característica conquistou gerações e gerações de leitores, encantando cariocas e fluminenses pela proximidade com o cotidiano dos bairros e comunidades.
Adaptação aos novos tempos
A capacidade de adaptação também sempre foi uma marca registrada, conforme atesta o experiente profissional. "Você tem que se adaptar ao meio. Não tem jeito. Ou vai acompanhar a velocidade das coisas, ou não sobrevive", filosofa o repórter.
"Ou você faz a coisa certa, se empenha em fazer, em trazer o material para a sua empresa ou não sobrevive como jornalista. Aqui não tem a palavra não. Meu mantra para qualquer repórter: 'não volte para o jornal com a palavra não'", resume Luarlindo, que tem no currículo três prêmios Esso. "Essa mentalidade de comprometimento total com a profissão é o que garantiu ao DIA sua longevidade e respeito no mercado."
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