O sepultamento aconteceu na tarde desta quarta-feira (28)Érica Martin / Agência O Dia
'Sangrou por seis horas', denuncia família de motorista de app baleado na cabeça
Amigos e familiares contestaram o atendimento da rede pública de saúde
Rio – O sepultamento de Vagner Santos Ferreira, motorista de aplicativo que morreu após ser baleado na cabeça, aconteceu nesta quarta-feira (28), no Cemitério de Irajá, Zona Norte do Rio, na presença de familiares e amigos emocionados. Segundo relatos, a vítima estaria fazendo uma corrida quando sofreu uma tentativa de assalto na última segunda-feira (26) e foi atingido, em Senador Camará, Zona Oeste.
Vanderson Santos, 36, irmão de Vagner, lembrou de como ele era querido pelas pessoas e contestou o atendimento da rede pública de saúde.
"Meu irmão era um cara tranquilo, gentil com todo mundo, tanto é que todos os amigos dele estão vindo para cá, familiares. Ele era muito querido, honesto, brincalhão. O caráter dele, a postura dele. Morreu porque, de repente, não foi socorrido da maneira como deveria. Se tivessem tido o tato e a sensibilidade de socorrer ele da maneira correta, de repente ele estaria salvo. Mais de seis horas o meu irmão ficou sangrando. Ninguém fez uma cirurgia, ninguém fez nada. A verdade é que trataram meu irmão de qualquer forma. 'Ah, esse é só mais um que vai morrer e tá tudo bem'. A verdade é essa", protestou.
Após ser baleado, Vagner foi levado pelos bombeiros ao Hospital Municipal Albert Schweitzer (HMAS), em Realengo, Zona Oeste. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) destacou que o motorista recebeu todos os cuidados necessários, mas devido à localização do projétil, não havia possibilidade de recuperação.
Antes da morte ser confirmada, ele foi transferido para o Hospital Estadual Getúlio Vargas (HGEV), na Penha, para realização de uma tomografia. Contudo, precisou retornar para a unidade municipal, pois não havia o equipamento necessário para o exame, considerando o peso da vítima.
"No HEGV, Vagner foi prontamente atendido pelo neurocirurgião, que contraindicou a realização de cirurgia e recomendou a abertura do protocolo de morte encefálica. Sendo assim, por estar fora de possibilidades terapêuticas, o paciente retornou ao HMAS. Em nenhuma das duas unidades foi possível realizar a tomografia", afirmou, em nota, a SMS.
Procurada, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) disse, na terça-feira (27), que Vagner chegou ao Hospital Estadual Getúlio Vargas por decisão do sistema de regulação do município do Rio, mesmo tendo ciência de que a unidade não conta com tomografia para pacientes superobesos.
A SES ainda destacou que notificará a SMS para que os fluxos de regulação sejam respeitados, evitando que situações como essa voltem a ocorrer.
'Totalmente transtornados'
O estudante de direito Ângelo da Silva, de 43 anos, também trabalha com aplicativos de corrida nas horas vagas e descreveu Vagner, seu amigo, como uma pessoa alegre e espontânea. Ele explicou que o motorista buscou ageiros em Realengo e andou cerca de 6 km, até fazer uma parada em uma rua, onde aconteceu o disparo fatal.
"Os moradores deram depoimento e disseram que tinham duas mulheres dentro do carro. A corrida foi pedida por uma mulher, que já está identificada. A polícia já tem os dados do aplicativo", ponderou. Em seguida, Ângelo explicou a dinâmica do atendimento das autoridades.
"O Vagner chegou com vida no hospital. Ele foi atendido no Hospital Albert Schweitzer. Eu estou em posse de todos os procedimentos que foram feitos no hospital, com o boletim. Os bombeiros colocaram o venoso, tubo para auxiliar na respiração, para que ele tivesse uma qualidade melhor até ser atendido no pronto-socorro. Porém, ele ficou em uma maca por horas, esperando atendimento. Eles não tinham o equipamento necessário para fazer a tomografia, então ele foi transferido para outro hospital. Chegando lá, eles também não tinham o equipamento para a tomografia, devido ao peso do Vagner, que pesava por volta de 140 kg. Ele foi enviado de volta para o Albert Schweitzer", protestou.
"Nós, como família, vizinhos e amigos, estamos totalmente transtornados em ver esse fato. É inaceitável que um hospital faça a transferência de uma pessoa em estado grave para outro, sem que haja a confirmação se um deles tem aparelho ou não."
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