Na ação, Altemar Pinto, responsável por uma das cooperativas de vans foi levado à Cidade da PolíciaReginaldo Pimenta/Agência O DIA
"O Detro, por meio de auditorias internas, verificou que havia, possivelmente, a prática de fraudes relacionadas à bilhetagem eletrônica envolvendo o Bilhete Único, que utiliza subsídio do Estado do Rio para custear essas agens. Então, começou a encaminhar documentos referentes a esse tipo de atuação, os quais comprovaram que, possivelmente, estavam ocorrendo fraudes em várias linhas que operam na Baixada. A partir desses documentos, iniciamos a investigação", disse.
O esquema, revelado após uma longa investigação sigilosa, envolve linhas intermunicipais de transporte entre a Baixada Fluminense — Guapimirim, Magé, Piabetá e Raiz da Serra — e o Centro do Rio. Os fraudadores simulavam dezenas de agens por hora em veículos com apenas 15 lugares, utilizando-se do sistema de bilhetagem eletrônica para burlar os rees do estado. Em um dos casos, foram registradas mais de 34 validações em apenas uma hora, sem que nenhum ageiro sequer entrasse na van.
O núcleo criminoso investigado lucrava por meio da simulação deliberada de viagens inexistentes com o uso fraudulento de cartões RioCard vinculados ao programa Bilhete Único Intermunicipal. Por meio da instalação e manipulação dos validadores eletrônicos em suas vans, os permissionários realizavam múltiplas validações sequenciais — muitas vezes com o veículo parado e sem qualquer ageiro a bordo — registrando artificialmente um alto número de "embarques".
Os valores obtidos eram, em parte, lavados por movimentações fracionadas, aquisição de bens em nome de terceiros e uso de empresas de fachada, consolidando o enriquecimento ilícito com aparência de legalidade e dificultando a rastreabilidade do produto do crime. De acordo com o apurado, o esquema era baseado na industrialização da fraude, cujo lucro decorria diretamente da exploração de uma política pública voltada à proteção do cidadão trabalhador.
O inquérito apontou que os autores montaram uma organização criminosa com divisão de tarefas, ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro, sustentada por um fluxo constante de rees falsificados do programa Bilhete Único, que movimenta anualmente cerca de R$ 900 milhões. A estimativa é que o prejuízo gerado por esse grupo possa chegar a dezenas de milhões de reais por ano.
As apurações contaram com oitivas de testemunhas, cruzamento de dados do sistema de bilhetagem, rastreamento de itinerários e cooperação com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD) da Polícia Civil. O relatório de inteligência financeira revelou movimentações incompatíveis com as rendas declaradas, saques fracionados em espécie, rees cruzados entre os próprios permissionários e vínculos com cooperativas e locadoras de fachada.
A operação tem como objetivo apreender documentos, celulares, mídias digitais, veículos de alto valor e joias de origem suspeita, além de ar o conteúdo de dispositivos eletrônicos e registros de dados em nuvem que possam comprovar o esquema. Com o material em mãos, a DDSD vai ampliar as diligências, a fim de identificar outros envolvidos. Os alvos responderão pelos crimes de peculato, lavagem de capitais e constituição de organização criminosa.
A empresa informou ainda que mantém um controle rigoroso e efetivo a respeito da utilização de cada cartão cadastrado com o BUI pelo seu respectivo responsável.
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