Médico do Grupo Redentor orienta o uso de ivermectina contra covid: medicamento não tem eficácia comprovada contra a doençaReprodução
Rodoviários são orientados a usar medicação sem eficácia comprovada contra a covid
Recomendação para o uso de ivermectina foi feita por médico do Grupo Redentor, que controla a Viação Redentor, Transportes Futuro e Transportes Barra. Elas reúnem um total de 4.586 trabalhadores
Rio - Além de funcionários da Viação Redentor, os rodoviários das empresas Transportes Futuro e Transportes Barra, que também pertencem ao Grupo Redentor, foram orientados a tomar o medicamento ivermectina como forma de evitar contágio pela covid-19. A informação foi confirmada pelo DIA junto ao Sindicato dos Rodoviários do Rio. Na comunidade científica internacional, não há comprovação sobre a eficácia do medicamento no combate ao coronavírus.
Um médico que atua na Viação Redentor assina orientação, afixada em posto de saúde na sede da empresa, orientando os funcionários a usar o medicamento três vezes por semana, como mostrou o RJTV, da TV Globo. Segundo o sindicado da categoria informou ao DIA, a mesma recomendação foi reada aos funcionários das outras duas empresas do grupo, que reúne um total de 4.586 rodoviários: 1.723 (Viação Redentor), 1.062 (Transportes Futuro) e 1.801 (Transportes Barra).
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Na recomendação, intitulada 'Campanha Grupo Redentor sem Covid', o médico escreve:
"Vamos evitar Covid na nossa empresa! Usar 3 comprimidos de ivermectina (6mg) por semana sempre no mesmo dia e tomados fora do horário de trabalho".
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No texto, o médico afirma que o uso do remédio é seguro, e que 'já existe evidência de que a medicação diminui a carga viral e permite que seu sistema imunológico reaja muito melhor à infecção'.
A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo rebate:
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"Isso já é um assunto ultraado. Não há mais controvérsia. Existe uma demonstração consistente em vários estudos que mostram que a ivermectina não funciona para prevenir a covid-19 nem para evitar eventuais complicações da doença. É profundamente lamentável que essa recomendação esteja ocorrendo", diz Dalcolmo, que acrescenta:
"O uso dessa medicação não protege ninguém. Isso é uma maneira de as pessoas se iludirem, achando que estão protegidas e eventualmente relaxarem nas medidas de precaução e proteção individual e coletiva, como o uso de máscara, distanciamento e ocupação adequada do transportes coletivos, que é hoje a nossa maior preocupação".
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A especialista afirma, ainda, que o uso prolongado da medicação sem necessidade pode causar danos hepáticos.
Presidente da Comissão de Transportes da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), o deputado Dionísio Lins informa que irá notificar as empresas e as Secretarias municipal de Transporte e de Saúde, assim como a Secretaria de Estado de Saúde, para que apurem o caso e confirmem a recomendação.
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"Estamos dando o prazo para nos responderem em 48 horas. Dependendo das informações que recebermos vamos notificar o Ministério Público para que tome as medidas cabíveis. É um absurdo que um médico a serviço de empresários oriente o uso de um medicamento que não está aprovado pela Anvisa para o tratamento da covid-19. Isso é muito grave e, a meu ver, estão politizando um assunto de saúde", diz o deputado.
Sindicatos e Cremerj se posicionam
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Segundo o Rio Ônibus, sindicato das empresas, foi determinado pela direção do órgão uma apuração sobre a recomendação do médico. A nota do sindicato afirma que, desde o início da pandemia, máscaras e higienização são itens indispensáveis aos rodoviários, cuja inclusão entre os grupos prioritários para vacinação vem sendo defendida pela empresa. "A companhia dispõe ainda de e médico para funcionários em caso de necessidade e afirma que autoriza divulgação exclusivamente de métodos indicados pelas autoridades competentes", diz a nota.
Já José Carlos Sacramento, vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, afirma que a recomendação do médico do Grupo Redentor para o uso de ivermectina é completamente contrária à posição do sindicato. Ele informou que irá notificar o Ministério Público do Trabalho para que investigue o caso.
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"Não dá para entender e nem aceitar que um médico indique um medicamento sem comprovação e sem aprovação da Anvisa como tratamento para o coronavírus, colocando em risco a saúde dos profissionais da categoria, já que esse medicamento pode trazer sérios problemas de saúde".
O Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) disse que está apurando o caso.
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