Cacá DieguesReprodução/Instagram

Rio - Ao longo de sua trajetória profissional, iniciada em 1959 - começo do cinema novo - o cineasta Cacá Diegues, que morreu aos 84 anos, na madrugada desta sexta-feira (14), foi premiado em vários filmes e deixa um grande legado na cultura do Brasil.
Entre os longas premiados em festivais internacionais ao longo de sua carreira - e grande sucesso de público - que se destacam estão: "Cinco Vezes Favela" (1962), "Xica da Silva" (1976),  "Bye bye Brasil" (1980), "Dias melhores virão" (1989), "Veja esta canção" (1994), "Tieta do Agreste" (1996), "Orfeu" (1999) e "Deus é Brasileiro" (2003), protagonizado por Antonio Fagundes.
"Deus é brasileiro foi um filme muito gratificante, no sentido da produção, das amizades entre as pessoas que estavam no fime. Isso acontece, tem filmes que são mais agradáveis de fazer do que outros", contou Cacá em entrevista à Tá na Web TV.
“Ganga Zumba” (1964) tem no elenco Antonio Pitanga (creditado como Antonio Sampaio), Eliezer Gomes, Léa Garcia e Luiza Maranhão, e é considerado o primeiro filme nacional com protagonistas e um elenco praticamente apenas com atores negros.
Na época da ditadura militar, o cineasta deixou o Brasil em 1969 e viveu na Itália e França com a cantora Nara Leão, com quem foi casado. Retornou ao Brasil e dirigiu "Xica da Silva", com Zezé Motta, em 1976, uma das fases mais repressoras da ditadura. E foi logo após esse período de renovação do cinema nacional que ele dirigiu "Bye Bye Brasil", em 1980.
"O desejo do cinema novo era trazer para o cinema a imagem do povo brasileiro, era uma chegada tardia do modernismo. Nunca mais o cinema brasileiro foi o mesmo. Um dos sucessos foi essa forma de fazer cinema no Brasil com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", disse o cineasta em entrevista ao "Roda Viva" em 2015.
Outro sucesso de público foi "Tieta do Agreste", adaptação de Jorge Amado, estrelada por Sonia Braga, Marília Pêra e Chico Anysio. Mais de meio milhão de brasileiros assistiram nas telonas.
Em 2010, Cacá e Renata de Almeida Magalhães, produziram o filme “5x Favela, Agora por nós mesmos”, escrito, dirigido e realizado por jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro.
O cineasta opinou que o Brasil estava se americanizando muito na forma de fazer cinema durante sua participação no "Roda Viva", em 2015. "Está faltando essa naturalidade com o que se fazia cinema naquela época. Quando chego num set de gravações, fico espantado com o número de pessoas que tem ali.É uma multidão", avaliou.
"Acho que o cinema brasileiro está sofrendo esse gigantismo que é muito perigoso", completou.
Ele contou ainda que, apesar do grande sucesso de bilheteria em muitos dos seus filmes, não conseguiu viver de cinema no ínício da carreira. "Consegui viver de cinema com 'Xica da Silva'", disse. Na época, o filme teve um público grande: 3,2 milhões de pessoas assistiram nos cinemas.
No governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992)  que provocou uma grave crise no cinema brasileiro, com o fechamento da Embrafilme, a principal fonte de financiamento do cinema nacional, Cacá Diegues teve que ganhar dinheiro com comerciais de TV. "Fiz todos os filmes da Raspadinha... Fui fazer um comercial de shopping center, a senhora que me contratou me disse: 'no shopping você não pode mostrar duas coisas: preços das coisas e negros'. Até fazer 'Tieta' fiquei fazendo essas coisas", lembrou. 
Cacá estava finalizando o filme "Deus ainda é brasileiro", continuação para sucesso de 2003 estrelado por Antonio Fagundes e Wagner Moura. A previsão de estreia estava prevista ainda para esse ano.